Os físicos do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern, na sigla em
francês) "encurralaram" a partícula conhecida como “bóson de Higgs” –
apelidada de “partícula de Deus”, segundo anúncio feito nesta
terça-feira (13), em Genebra, na Suíça. Os pesquisadores ressaltam, no
entanto, que não há dados suficientes para se confirmar que ela foi
“descoberta”.
O “bóson de Higgs” é uma partícula hipotética que seria a primeira com
massa a existir após o Big Bang e responsável pela existência de massa
em outras partículas do Universo. Para encontrá-la, os cientistam
colidem prótons (que ficam no núcleo dos átomos) e procuram entre as
partículas que surgem desse impacto.
Dois grupos independentes procuram o Higgs no Grande Colisor de
Hádrons, do Cern, na Europa: o Atlas e o CMS. Eles não têm acesso aos
dados um do outro e apresentaram seus resultados no mesmo simpósio nesta
terça.
A conclusão principal é que os cientistas ainda não acharam o Higgs --
mas, se a partícula existe, eles agora sabem onde procurar.
Antes, é preciso entender uma coisa: os cientistas medem a massa das
partículas como se fosse energia. Isso porque toda massa tem uma
equivalência em energia. Se você calcula uma, tem o valor das duas. A
unidade de medida usada é o gigaelétron-volt, ou "GeV".
Segundo o grupo Atlas, se o Higgs existir, ele tem uma massa entre 116
GeV e 130 GeV. Os dados do CMS mostram uma faixa bem próxima: entre 115
GeV e 127 GeV. Ou seja: é entre partículas nessa faixa de massa que os
cientistas vão procurar.
O brasileiro Sérgio Novaes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
que é membro do CMS, sugere cautela na análise dos resultados. "Os dados
não são conclusivos, a gente precisa lembrar sempre isso", afirmou ele.
Ilustração
de uma colisão entre partículas promovida pelo acelerador LHC. É com
experimentos como esse que os cientistas estudam partículas como o bóson
de Higgs (Foto: Cern)
Apresentação
O primeiro grupo a falar foi o Atlas, com a italiana Fabíola Gianotti.
Segundo ela, os cientistas já excluíram a possibilidade de encontrar o
Higgs entre as partículas que têm entre 141 GeV e 476 GeV.
De acordo com a cientista, o grupo conseguiu reduzir a janela de
probabilidade onde a partícula deve estar. Dentro dela, a região onde
estão partículas com 126 GeV de massa parece ter indícios fortes da
presença do Higgs .
Após o Atlas, Guido Tonelli, do CMS, apresentou os dados de sua equipe.
Eles encontraram esses indícios mais fortes do Higgs em uma região um
pouco abaixo, mas muito próxima: entre 123 GeV e 124 GeV de massa.
Segundo os pesquisadores, hoje há cinco vezes mais dados do que no momento da última conferência, há seis meses.
Modelo Padrão
Os físicos têm uma teoria para explicar as partículas elementares do
Universo – aquelas minúsculas que formam tudo que existe. Essa teoria se
chama “Modelo Padrão”.
O Modelo Padrão explica tudo que sabemos sobre o comportamento e o
surgimento dessas partículas, menos uma coisa: por que elas têm massa? E
essa é uma pergunta muito importante. O fato de as partículas terem
massa é a razão pela qual qualquer coisa no mundo tem massa: o Sol, os
planetas, eu e você.
É aí que entra o bóson de Higgs. Diversos físicos – entre eles um
britânico chamado Peter Higgs – descobriram um mecanismo teórico que
tornaria possível que as partículas tivessem massa. Esse mecanismo –
batizado de “mecanismo de Higgs” – prevê a existência de um “campo” que
interage com tudo que existe no Universo. Essa interação faz com que as
partículas ganhem massa.
Para esse campo existir, é preciso também existir uma partícula
especial e invisível. Os físicos pegaram essa proposta e aplicaram nos
cálculos do Modelo Padrão e tudo fez sentido. A partícula invisível foi
batizada em homenagem a Higgs.
De lá para cá, todas as outras partículas previstas pelo Modelo Padrão
foram encontradas, menos essa. Encontrá-la é tão importante que os
cientistas construíram na Europa um gigantesco colisor de partículas,
conhecido como Grande Colisor de Hádrons, que é a maior máquina já feita
pelo homem.
Se, em vez de encontrá-la, os pesquisadores provarem, no entanto, que
ela não existe, toda a teoria atual sobre a formação da matéria do
Universo vai precisar ser revista.